sexta-feira, 9 de julho de 2010

Eu lembro-me. Eu li... poesia em ti.

Eu li poesia em ti pela primeira vez.
Ela caminhava até mim com o seu orgulho de ser ela mesma. Eu quase que jurei que até das paredes ela vinha. Tamanha graciosidade, tamanho medo da minha parte. Deixei-me levar pelo teu sabor e os teus olhos suaves como velas. Eu nunca me consegui pronunciar antes, mas aqui concerteza a minha voz pareceu ganhar vida, e queria dizer-lhe que sim, que a li, antes que ela se pudesse deixar ler esta noite por mais alguém desta cidade gelada. Algo que eu descobri o que faltava no meu total desvaneio de ser quem sou, foste tu.

Afastando-se da multidão e desrespeitando quaisquer sinais de pontução ela chamava os olhares como que se fosse a sua representante. E foi quando ela disse: Como é que se escreve? Como é que se escreve algo como se fosse o primeiro dia? Como se nunca te tivesses magoado antes? Eu olhei para ela ainda com a respiraçao descontralada atrapalhadamente tentei responder e foi quando ouvi o comboio, o comboio em que ela devia ir, o comboio por detrás da porta de entrada onde íam momentos momentaneamente perdidos e sofridos, corpos de mulheres brancas, pretas, azuis e verdes deitadas ao lado de homens como era de se esperar. E continuaste:"Como é que tu conseguiste ultrapassar isto e eu não? Eu nunca pensei em não ter o que poderia dizer e/ou soar como alguém maior...Sabes quantas vezes já fui apunhalada?"perguntou-me. Levantou a blusa para então descobrir as feridas que um pouco abaixo do peito mais pareciam papel de parede, e passámos a noite a comparar as nossas feridas. A minha mão reconheceu a mão dela, reconheceu a dor dela. O comboio começou a apitar e sem pensar eu virei-me e encostei as minhas costas á barriga flagelada dela, querendo, tentando assim apagar e passar algo novo, algo limpo, como que desenhando uma nova linha do tempo apagando assim o passado.